quarta-feira, 24 de outubro de 2007


"...
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela naúsea, vivo na outra...
..."

(Fragmento de Datilografia - Fernando Pessoa)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Um Predinho Azul...


Entre os anos estão os meses e entre os meses estão os dias e entre os dias estão às horas e entre as horas estão os segundos e entre esses anos meses dias horas e segundos esta o dia que não teve fim numa sexta feira de dezembro de aniversário, se houve um dia mais feliz entre todos os vividos naquele predinho azul, esse foi o meu preferido que dera não só uma cumplicidade aos seus habitantes como também aos seus agregados; dia interminável que no tempo de agora traz nostálgica lembrança.
Todos inebriados até hoje por um sentimento que deveria ser passageiro, que eu também presenciei e senti; não fazem o deleite que aquele dia nos proporcionou, mas eu ainda os posso sentir e lembrar.
Era um dia como outro qualquer, mas não um dia qualquer, era dia de anos de um dos nossos habitantes do predinho azul; seus habitantes se encontravam ligados por uma cumplicidade descomunal naquele famigerado dia que se aclamaria por flash black ate os dias de hoje; nunca houvera tanta gargalhadas e algazarra entre aqueles emaranhados tijolos azuis.
Mas ainda podia se notar naquelas tagarelices onde as bebidas não deixavam nenhum de seus habitantes e agregados em sã consciência, mas dava a eles um ar de desbravadores de um novo mundo só por eles habitados, mundo onde as diferenças às vezes brutais do dia a dia ficaram de lado esquecidos pelo momento, tanto que não couberam em risos em fotos e ate mesmo de um stripe nada convencional.
O ápice do dia que não teve fim deu se como miragem entre águas... E como em um deserto nos vimos sós, desligados do mundo e como um antropófago fez se a nudez de alguns dos seus habitantes e agregados e foi lá que existiu o melhor momento juntos de nos mesmos, não só nos admiramos e vivemos em harmonia naquele dia, como também fizemos com que o predinho azul se imortalizasse em nossas subjetivas lembranças.
A visão pode ser arbritária, mas o conteúdo independe de qualquer visão do predinho azul numa sexta feira de dezembro.

sábado, 6 de outubro de 2007

Fúnebres paredes ocas...

A muito me encontro dentro de um labirinto que aturdida entrei em busca existencial do amor; entre um caminho e outro percorri um sentimento que há tempos não sei entender, mas isso tão pouco fez com que cessasse minha procura e enquanto estive em meio a essa procura balbuciava comigo os porquês que me faziam seguir esse caminho e não outro qualquer e entre um balbuciar e outro, ouvi um balbuciar que consolidou minha procura; enfim entendi o motivo que me mantinha inquebrantável em permanecer em um labirinto que nada me oferecera, senão mais um dia da dose que me mantivera cega por entre os tempos: Esperança; palavra que é desmistificada quando perseguida e assumi uma lúgubre demência em quem ouve sua harpa sonoridade.
Quando enfim sucumbi a essa idéia; balbuciei um adeus longínquo e só então conclui que o balbuciado que ouvira e me fizera andar por entre os caminhos mais solitários e sombrios eram ecos de mim. Foi só então que me senti livre novamente e na saída do labirinto vi fragmentos do passado; constatei que o eco daquele adeus fez com que o labirinto nunca existisse na minha infame vida e nem havia existência alguma do amor naquelas fúnebres paredes ocas...

A foto acima é cena do filme O labirinto do fauno de Guilherme del Toro onde realidade ou fantasia são do entendimento sujetivo de cada um. Assim como del Toro não deixa claro se aquilo tudo está realmente acontecendo ou se são apenas criações da mente da pequena Ofélia para se refugiar da realidade, eu também não sei dizer onde começa a fantasia e onde termina a realidade, ambos pra mim apenas coexistem .
Recomendo o filme O labirinto do fauno.